Restaurante 'Um Novo Recomeço', símbolo de reconstrução de vila arrasada por enchentes no RS, fecha as portas
28/02/2025
(Foto: Reprodução) Estabelecimento era o único da Vila Mariante, retratada em série especial do g1 sobre a retomada da via após a maior tragédia climática do estado. Dados da Junta Comercial, Industrial e de Serviços mostram que quase 147 mil empresas fecharam em 2024. Falências e pedidos de recuperação judicial sobem. Taís, dona do restaurante Novo Recomeço, em frente à casa temporária em que vive com o filho
Arquivo pessoal
, ainda de acordo com os números da Junta Comercial gaúcha.
O restaurante Um Novo Recomeço, símbolo da tentativa de reconstrução de uma vila bicentenária devastada pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, fechou as portas.
"Tivemos que pagar umas outras contas das outras enchentes. O pior nem é isso: devo R$ 30 mil e estou sem um centavo no bolso", conta Taís de Souza, de 34 anos, dona do Novo Recomeço.
O Um Novo Recomeço era o único restaurante da Vila Mariante, um distrito de Venâncio Aires, cidade que fica a 130 km de Porto Alegre.
A comunidade, que teve toda a infraestrutura destruída e quase todos os imóveis atingidos pelas cheias de 2024, foi retratada em uma série do g1 sobre a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul – e sobre a tentativa da população de recomeçar (clique nos links abaixo).
A vila gaúcha de 250 anos arrasada pelas enchentes no RS
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Três enchentes em 1 ano
No intervalo de menos de 1 ano, Mariante, que fica às margens do Rio Taquari, foi atingida por três enchentes.
Na primeira, em setembro de 2023, o restaurante perdeu parte da estrutura. O prejuízo, na ocasião, foi de R$ 20 mil, segundo Taís. Dois meses depois, em novembro, a perda foi maior: R$ 50 mil.
Na de maio de 2024, Taís calcula que perdeu R$ 100 mil. Mesmo assim, foi uma das poucas moradoras de Mariante a tentar voltar para a vila.
"A gente pensa em voltar a ser como a gente era", diz Taís de Souza, de 34 anos, ao apostar na retomada do distrito. "Ver a vila cheia como era antes, ter as pessoas caminhando, ver mais alegria na vila porque está meio morta, sabe?", disse ela em dezembro.
As pessoas, entretanto, não voltaram para Mariante – não de um jeito que permitisse à vila manter o restaurante. Taís estima que umas 300 voltaram a morar na vila – eram 1,5 mil em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
Diante da falta de clientes, ela decidiu, em janeiro, acabar com aquele recomeço.
"Nossa situação piorou bastante [no fim de 2024]. Tivemos que fechar nosso restaurante. Não deu mais, não tinha movimento", lamenta.
Recorde de empresas fechadas
A realidade de Taís é a de outras centenas de empresas no Rio Grande do Sul.
Em 2024, 60 empresas decretaram falência, o maior número desde 2020, segundo a Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (Jucis-RS). O número de empresas que pediram recuperação judicial naquele ano (143) cresceu 48% em relação a 2023, quando foram 110.
O fechamento de empresas subiu 12%, para 146,8 mil em relação às 130.678 empresas fechadas em 2023 – o número, entretanto, vem em alta desde 2020, quando começou a pandemia do coronavírus.
Empreendedora agora busca emprego
Além de fechar o restaurante, Taís decidiu deixar a Vila Mariante. Pediu ajuda à Prefeitura de Venâncio Aires e recebeu aluguel social por três meses em uma casa na área urbana do município, a cerca de 30 km do distrito, onde mora com o filho, de 9 anos.
A ajuda acaba em março e, segundo a prefeitura, Taís aguarda o fim do processo da Caixa Econômica Federal para receber uma casa do programa Compra Assistida.
A empresária, agora, tenta encontrar um emprego para recomeçar a vida.
"As pessoas lá na vila estão voltando para as casas destruídas porque não têm pra onde ir", diz a moradora da Vila Mariante. "Estamos no aluguel social só mais esse mês. É muito desesperador sabe ainda mais tendo filho pequeno".
Novo recomeço de Mariante: arrasada pelas enchentes, vila gaúcha tenta se reconstruir
Leia também:
Casa temporária
Foto de novembro de 2024: Casa segue pendurada no meio da vila gaúcha de Mariante meses depois da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul.
Fabio Tito/g1
Relembre a história de Mariante
O g1 esteve em Mariante logo após as enchentes atingirem a região e mostrou os impactos das inundações e o sofrimento das pessoas atingidas pela tragédia (relembre aqui).
Sete meses depois, em dezembro de 2024, uma série de reportagens mostrou a realidade da vila, dividida entre a destruição e o desafio de um novo recomeço.
Mapa mostra área de risco na Vila Mariante
Arte/g1